2 de janeiro de 2013

Hermínio prevê crise com 2013 tumultuado  

Presidente da ALE, Hermínio Coelho, do PSD
Porto Velho, Rondônia - Um ano depois de assumir a presidência da Assembléia Legislativa, o deputado Hermínio Coelho (PSD-Porto Velho) se transformou num protagonista da política estadual. Na guerra travada contra o governo estadual, foi personagem decisivo no afastamento das irmãs do governador Confúcio Moura e, graças as suas denuncias junto a justiça, o prefeito de Porto Velho Roberto Sobrinho (PT) foi afastado e quase meia de seus secretários presos pela Polícia Federal. Quem diria que aquele adolescente humilde que saiu da roça para tomar sua primeira coca-cola em Petrolina (PE) aos 16 anos chegasse ao topo? Em Porto Velho, viveu momentos difíceis, morando num barraco onde os ratos carcomiam seus pés e o salário só dava para comer pão com ovo. Antes de se tornar sindicalista, vereador e deputado, penou muito. Hoje é considerado o grande líder da oposição – ofuscando o senador Ivo Cassol apagado no Congresso e considerado inelegível - um dos nomes mais cotados para a disputa do governo do estado em 2014.  
No próximo dia 1º de fevereiro, o presidente Hermínio Coelho  se prepara para o ato de posse para mais um biênio (2013/14) na presidência do parlamento com a missão de continuar lutando pela independência e transparência das ações do Poder Legislativo. Ele acredita que se manterá no cargo, mas não descarta conspirações da base governista para derrubá-lo. “Eles sabem que não darei trégua. Este governo não vai se manter em 2013”, vaticina
 Hermínio fez um balanço da sua gestão: “O primeiro ano de gestão foi muito difícil”, disse o parlamentar, ao lembrar da operação “Termópilas”, deflagrada pela Polícia Federal e que culminou com a prisão do ex-presidente Valter Araújo. Na época, Hermínio ocupava o cargo de vice-presidente e foi conduzido ao cargo de presidente. “Hoje a Assembléia está bem diferente e estamos trabalhando para continuar com essa independência”, acredita.
Com 47 anos, Hermínio nasceu na localidade de Dormente, na época, distrito de Petrolina (PE). Chegou em Rondônia no início da década de 90, após ser demitido em uma metalúrgica na cidade de São Paulo. “Fui demitido por defender um trabalhador”, recorda. Casado, pai de cinco filhos, e oriundo de família humilde, o parlamentar já enfrentou muitas dificuldades na vida e chegou em Porto Velho duro, sem um centavo no bolso, mesmo economizando o que podia, numa desgastante viagem e ônibus.  
Em entrevista ao Diário, ele fala da sua trajetória sindical, sua ascensão na política e as dificuldades que enfrentará a partir de 2013. Sobre o plano político, ele é bem enfático: tem cartas na manga para derrubar o poder dominante e não dará trégua num  ano que vaticinou ser de crise para o estado, numa visão antagônica a do governador Confúcio Moura que anunciou 2013 como o melhor ano para o estado. Abaixo, sua entrevista:
Diário – Relate como foi sua chegada a Porto Velho...
Hermínio - Antes de chegar a Porto Velho, no início dos anos 90, trabalhei em uma metalúrgica na cidade de São Paulo. Fui demitido por defender trabalhador. Resolvi então procurar emprego em Porto Velho. Durante a viagem, meu único dinheiro acabou em Cuiabá. Chegando na cidade, não dinheiro nem para pagar um táxi. Minha mãe, na época trabalhava de emprega, que veio me buscar.
Diário – Como foi seu primeiro emprego ?
Hermínio - Meu primeiro emprego foi na empresa de transporte público Porto Velho. Tive que fazer a barba e tomar um banho para conseguir emprego. Fiz testes para entrar na empresa e sai empregado na função de cobrador. Com cinco meses de trabalho, fui demitido por não colocar ordem dentro do ônibus era os tempos duros das gangues e era difícil controlar o acesso a noite, muito tumultuado.  

Diário – E de líder sindical a vereador foi um pulo...?
Hermínio - Me candidatei na eleição da SIPA. De 200 trabalhadores, recebi apoio de 140 funcionários. Eu era vice-presidente da Sipa. Entrei na Sipa para o não ser demitido. Nunca participei de reunião de sindicato. Na época, o motorista não ganhava 300 tarifas, em decorrência da inflação. Fiz oposição e tirei o presidente do cargo. Eu candidatei em 93 presidente do Sindicato dos Cobradores de Ônibus. Na época, me ofereceram dois ônibus para mim renunciar da Sipa.
Diário – E o seu ingresso na política partidária?
Hermínio – Decidi disputar uma vaga na câmara de vereadores e fui eleito. Em 96 me reelegi. Resolvi então concorrer ao segundo mandato em 2000. Fui o oitavo mais votado e o primeiro do PT. Em 2004 fui reeleito vereador e o mais votado. Fui líder do prefeito Roberto Sobrinho na Câmara, mas quando vi as coisas erradas acontecendo, resolvi cair fora. Nunca fiz parte da panela do PT. Em 2007 fui eleito presidente da Câmara e alertei o prefeito em muitas coisas. Todas as denúncias foram protocoladas no PT e eles queriam me expulsar do partido. 100% das denúncias foram comprovadas na operação “Vórtice”.
Diário – Como foi sua eleição a deputado, num quadro de disputa difícil, de muitas candidaturas na capital e seu nome preterido pelo poder dominante no seu partido?
Hermínio - Em 2010  na disputa a Assembléia Legislativa o PT tinha vários secretários e eram considerados favoritos na disputa pelas cadeiras. Fiz minha campanha em 2010 falando mal do prefeito Roberto, ninguém tinha coragem de fazer isto. Eu já sabia que seria eleito, mesmo enfrentando a máquina municipal.
Diário – O senhor assumiu a presidência da Assembléia Legislativa num momento de crise, numa travessia. Quais foram às principais dificuldades?
Hermínio – Foi realmente uma situação difícil. Mas o Parlamento estadual está resgatando a credibilidade. Hoje a Casa está diferente. Mas é muito complexo administrar uma Assembléia com 24 deputados. São interesses diferentes. O parlamento tem que dar condições para que o deputado não mendigar para o Executivo e isso eu tenho feito. O parlamentar tem condições de viver sem mendigar o Executivo.
Diário - Que balanço o ser faz da sua administração depois de um ano na presidência da Casa ?
Hermínio – A Assembléia não faz oposição ao governo. Só de financiamentos para o governo, aprovamos mais de R$ 980 milhões, além de fazer remanejamento de recursos para outras secretarias. Nunca fui pedir emprego para o governador. Se tiver alguém competente para trabalhar na Assembléia eu contrato. Não tenho pessoas capacitadas para trabalhar. O puxa-saco é uma desgraça no governo. Não existe nada do que gratificante fazer o bem. Não tem dinheiro do mundo que pague e o balanço de 2012 é de um ano produtivo, de muito trabalho. Estamos dando uma resposta a sociedade.
Diário  – Ao seu ver quais são as grandes bandeiras, as grandes causas rondonienses para 2013?
Hermínio – Rondônia é um estado rico. Rondônia de ruim só tem os políticos. Nunca houve reunião para discutir os problemas da saúde, educação e segurança. Falta tudo. É necessário criar política para o desenvolvimento de Rondônia. Os investimentos são importantes, mas é necessário ter política econômica. A agricultura é o futuro de rondoniense. Estou preparando para 2013.
Diário – Tradicionalmente a classe política rondoniense é desunida. É possível unir a Assembléia Legislativa, o governo do Estado e a bancada federal nas causas comuns do estado?
Hermínio – Muitos são eleitos com o mesmo discurso e enganando as pessoas. Já fui enganado várias vezes. Os políticos sempre enganaram. A transposição é a prova do desinteresse da classe política. Rondônia é muito mais importante do que Amapá e Roraima e eles não levaram isso em consideração. É possível se unir, mas falta honestidade da classe política
Diário - O tráfico de drogas assola Rondônia e a BR 364 se transformou num corredor de exportação de cocaína para o sul do país e importador de maconha para o Norte. Como combater este problema com mais eficiência já que este quadro influi diretamente no aumento da criminalidade?
Hermínio – Em 1.100 quilômetros de fronteira não existe fiscalização. E tão fácil fiscalizar o estado, mesmo sendo com tanta fronteira. Se fizer uma fiscalização  séria na BR-364 é possível asfixiar o tráfico. Ninguém abre a boca para falar sobre o assunto, estamos longe
Diário - Com grandes lideranças já fora do jogo para 2014 seu nome já é cogitado para disputar o governo do estado. O que tem a dizer a respeito?
Hermínio – Minha candidatura é uma coisa natural. Se o povo entender, serei candidato. Estou preocupado em fazer minha parte. Não tenho planejamento político. Quando comecei na Sipa não tinha interesse em disputar eleição. Tudo acontece naturalmente. Fiquei 7 anos no sindicato defendendo o povo. Não quero ser governador de Rondônia para pagar um salário de R$ 1 mil para professor. Muitos não se preocupa em pagar um bom salário e sim saquear o Estado. Se for governador e não pagar um salário, eu entrego o Estado. Tem lutado para fazer um grupo bom no Estado. Rondônia está agora dando exemplo para o Brasil. Isso é fruto do trabalho do MP e do TJ e da própria Assembléia.
Diário –Estão chegando dois  novos deputados estaduais na ALE. Como vê a renovação de lideranças?
Hermínio – Esperamos que os dois deputados que estão chegando desenvolvam um bom mandato e que defendam a população. Um deles, Cláudio Carvalho, convivi na Câmara de Vereadores e depois de muitos anos rompemos politicamente. Espero que hoje esteja mais consciente de quem é Roberto Sobrinho.
Diário – Rondônia tem crescido a 7 %, ao ano, o maior índice entre os estados. Como explicar as dificuldades financeiras do estado?
Hermínio – Eles estimaram um crescimento de Rondônia em 18,8% e com os recursos da Transposição.  Então, por isto  estavam gastando por conta. A arrecadação do Estado nunca caiu e o governo arrecada bem, só que foi obrigado a se ajustar a realidade. Falta planejamento, é um governo que esta perdido.  
Diário - A Lei de Responsabilidade Fiscal tem apertado prefeitos e governadores em todo país.  Atingiu a Assembléia Legislativa também?
Hermínio – Está apertando justamente pelos cálculos equivocados do governo já que com isto o repasse para os demais poderes também foi reduzido e ajustado. Pagamos R$ 12 milhões de pecúnia na Assembléia. Ajudei o MP e chamar trabalhadores e arrumou R$ 5 milhões e o mesmo fez com a Assembléia. Foram R$ 2 milhões para viagem do funcionalismo a Brasília. Pagamos salário e décimo dentro do mês trabalhado. Como o governo estimou em quase 20% o aumento do orçamento, ficamos agora fora do percentual. Em algum meses passamos do limite. Precisamos demitir mais pessoas e até abril para colocar a casa em ordem. Coisa difícil, a gente demite um e vem uns 100 interceder.
Diário  – Seus planos para 2013?
Hermínio – Vou seguir combatendo as irregularidades para 2013. Quero inaugurar o novo prédio da Assembléia em 2014. Estou pedindo para o MP e TJ acompanharem de perto. Só o projeto de ar-condicionado é R$ 10 milhões e o prédio R$ 40 milhões. Se não tiver problema de paralisação, será possível inaugurarmos esta grande obra em 2014.
Diário – Procede, o que se fala nos bastidores, de que a base aliada do governo estadual conspira para sua deposição em fevereiro?
Hermínio – Olha, vontade eles têm.  Falam em trégua, mas farei o contrário no mês de dezembro e janeiro. Eu tenho apoio da maioria dos deputados.  Não podiam reclamar, pois temos aprovado tudo que é de interesse do governo. Mas é essencial fiscalizar todas as ações do estado e denunciado as coisas erradas. Estou de plantão.
Diário – Sua mensagem de fim de ano?
Hermínio – Acredito que será um ano muito difícil para o Estado. Não temos que esperar muita coisa. Vamos continuar na luta, defendendo o nosso estado. Temos que reagir. Tudo depende dos políticos. Na maioria das vezes, os políticos são contra o povo. Não devemos esperar muita coisa deste governo. E o prefeito eleito Mauro Nazif terá muita dificuldade para administrar o município de Porto Velho já que pegará o espólio desta roubalheira do Roberto Sobrinho.

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